A algum tempo atrás quando começo a surgir essa historia de livro digital eu fui a primeira a torcer o nariz e disser "Isso não vai pegar", uma apaixonada querendo defender seu velho amor a todo custo, uma mãe protetora querendo defender seu filho querido das loucuras e perigos do mundo moderno. Eu si quer cogitava a possibilidade de conhecer o novo intruso e desaconselhava os mais curiosas a cometer essa violação de conduta, que a mim parecia um crime mortal a cultura e os bons costumes de um apreciador apaixonado pela leitura.
Não podia conceber que um dos rituais mais encantadores de uma leitura poderia estar em risco, ou melhor, eu acreditava que um livro jamais poderia ser degustado sem antes ser folhado e cheirado, em um incrível ritual de sedução em meio as prateleiras e bancadas de livros em uma livraria tradicional. Essa ideia e frieza de trocar as paginas em uma tela de plasma me dava verdadeira aflição, me deixava triste e preocupada com o futuro e destino de uma antiga paixão, que começou na adolescência e que é uma das únicas que me acompanham ate os dias de hoje.
Enquanto resistia e me negava a conhecer os livros digitais, continuava com uma das minhas paranoias (sim, não tenho só uma, afinal o que esperar de uma aquariana com ascendente em peixe a não ser muitas loucuras, paranoias e comportamentos estranhíssimos???) de carregar comigo 3 ou 4 livros, para acalentar uma angustia que persegue de "E se me der vontade de ler um livro que não esta comigo?" mania que sempre me rendeu um certo constrangimento, pois sempre era indagada pelos amigos "Que isso? Esta de mudança", por carregar uma bolsa enorme com os livros dentro para onde quer que eu fosse.
Eis que um dia, fui a livraria comprar um determinado livro que não esta disponível... que aflição, estava muito curiosa com relação ao livro porque havia recebido boas indicações eu queria muuuito começar a lê-lo naquele dia... sentada na frente do computador pensei: "Eu se eu procurasse uma versão digital, só pra dar uma espiadinha, só pra matar a curiosidade, amanha vou em outra livraria e compro a versão escrita e tudo volta a ser como sempre foi". Embora isso não tivesse nada de mais, me senti uma apaixonada preste a cometer uma traição fatal. Encontrei o tal livro em versão digital e cogitei a possibilidade de nem começar a ler, mas depois me veio um momento de lucidez e me questionei, "E por que não???". Acho que dentro de mim algo já previa o trágico final (como sou dramática).
Confesso que logo que comecei a ler, senti uma certa aflição e repudio por mim mesma, como alguém que defendia com tanta veemência os bom e antigos costume de leitura, podia estar ali praticando tamanho crime. As primeiras "viras de paginas" foram conflitantes e desajeitadas, mas o livro era tão bom que realmente me desliguei dos antigos preconceitos e segui livre ate a ultima pagina.
E foi assim que uma antiga e infinita paixão ganhou uma nova roupagem. Adoro a ideia de poder querer um livro as 3:00 da manhã e em 5 minutos ele estar nas minhas mão disposto a me fazer viajar por suas paginas, mesmo que digitais.
Embora tenha da uma nova roupagem a uma velha paixão, eu acredito que nunca vou perder o encanto de entrar em uma livraria tradicional e ficar por horas passeando por entre as instantes, sentir o cheiro de um livro novo é indescritível, chegar em casa encontrar um lugar confortável e abri-lo é uma das melhores sensações para um apaixonado por leitura. Passear pelas instantes das livrarias online não tem nada de charmoso ou romântico, mais me da uma sensação de poder e praticidade. São sentimentos distintos e cada um tem o seu tempo certo de ser externado.
Certa vez ouvi dizer que "Fazer uma releitura de musica, é como amar a mesma pessoa só de uma forma diferente." E é exatamente como me sinto com relação aos livros digitais, estou amando "mesma pessoa" só de uma forma diferente.
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