domingo, 2 de junho de 2013

Texto perfeito...

Encontrei esse texto que diz exatamente o que eu gostaria de escrever...


Os Lugares estão cheios de pessoas vazias
por Nelson Sganzerla - nelsonsganzerla@terra.com.br


Nesse final de semana fui a uma balada que tanto ouço o pessoal jovem falar (afilhado, filhos de amigos) e, confesso, há tempos não saio na noite e nem vou a lugares cheios, com muito barulho, pessoas falando ao mesmo tempo e brigando por uma mesa, geralmente bambas e super apertadas.

Há muito que me decidi não ir a shoppings, circuitos fashions badalados, restaurantes com gente mal educada falando alto exibindo a última tecnologia em celulares. Não gosto de sair do conforto da minha casa para ficar me acotovelado em filas intermináveis... mas como era aniversário de uma amiga querida, lá fui eu...

Devo dizer que esses bares atuais são de muito bom gosto, decoração apropriada, luz com a intensidade ideal que fazem “todos os gatos parecerem pardos”, o chope bem tirado, a porção de salgadinhos, apesar de fritura é saborosa, a música acompanhando a batida do nosso coração, com um “TUM TUM” bastante grave e garçons simpáticos atropelando-nos pelos corredores entre as mesas.

Um lugar bastante atraente, com pessoas bonitas, caras sarados, garotas de capas de revistas, que nada ficam a dever às platéias de uma Fashion Week. Tenho notado que atualmente a cara da noite é outra bem diferente... Não quero aqui ser saudosista, mas os antigos bares noturnos não mais existem, aqueles do banquinho e do violão com músicas que todos à volta cantavam seus refrões, quem não cantou em coro?
“Vi tanta areia andei, da lua cheia eu sei, uma saudade imensa”.

Hoje o afair acontece no coletivo, grupos de pessoas se reúnem para irem aos bares, ouvir música e beberem, mas nunca para conversarem olho no olho, mão na mão, mesmo porque o volume é tão alto e a muvuca é tão grande que se torna impossível existir o clima romântico do violão e do banquinho.

Pergunto-me: onde ficou o romantismo? Em que esquina ele foi esquecido? Os bares estão cheios de pessoas vazias, não existe conteúdo, não existe lógica; falta essencialidade (não sei se a palavra é essa), mas é assim que entendo e vejo essa grande massa que não sabe o que procura e se entorpece de álcool com as chamadas bebidas que potencializam nosso coração, com cafeína. E saem depois à toda com seus carrões e motos, batendo, matando e morrendo a cada esquina, tudo para irem parar no Instituto Médico Legaallll ou em uma cadeira de rodas.

Tudo na vida tem de haver um certo charme, para que nos tornemos interessantes para o outro, para que no outro dia exista uma vontade imensa de ligar novamente e querermos repetir a dose do dia anterior, do bom papo, das experiências trocadas, dos segredos compartilhados, daquela música que fica em nossa mente fazendo-nos lembrar da pessoa que estava em nossa companhia ,do beijo em que passávamos a semana inteira lembrando daquele momento mágico.

Mas talvez o ponto seja a falta de comprometimento, uma ausência de empatia. Estamos descartáveis demais...
Beija-se fácil e abraça-se pouco. O diálogo não tem começo nem meio e nem fim (isso quando há diálogo), todos falam ao mesmo tempo e ninguém exercita mais o escutar, o prestar atenção, ninguém fala nada com nada e quando fala percebe-se um ego imenso em torno de cada palavra, toda frase em geral começa na primeira pessoa do singular e jamais na primeira pessoa do plural.

Observa-se mulheres lindas e mal educadas, que são incapazes de agradecerem uma gentileza; homens engravatados circulando com carro do ano, que não sabem o que é dizer um... Por favor! Obrigado! Com licença... Palavras mágicas que aprendemos lá nos primórdios da nossa educação.

Hoje somos tolos em tudo, somos tolos quando acreditamos que tudo sabemos da vida, quando pensamos que o outro não nos faz falta e que podemos viver com arrogância e intolerância. Raríssimas são as vezes em que casais ou famílias se cumprimentam ou trocam cordialidades em um mesmo ambiente. Noto casais com filhos ainda recém-nascidos nos ambientes totalmente fechados em suas células familiares. Como essa criança irá se socializar e tornar-se uma pessoa livre de preconceitos, se não trocar afeto com outras crianças, na rua?

Hoje, o romantismo, a relação humana e o respeito estão plastificados, como a foto do nosso RG sem nenhuma expressão, vivemos no mundo do faz-de-conta, fazemos de conta que somos felizes, fazemos de conta que entendemos de tudo, fazemos de conta que tudo sabemos, e nesse mundo irreal, acabamos solitários e infelizes à frente de uma televisão, estáticos - novamente como na foto do nosso RG - a sonhar com um mundo virtual na tela do nosso laptop feito de pessoas tristes e sozinhas.

À noite, as baladas e as luzes nos atraem como mariposas fazendo-nos voar em torno desse glamour, dessas luzes coloridas. Realmente, diante de tanto aparato todos nós somos iguais. Afinal, o que vale nesse caso é o exterior, um cabelo bem feito, um corpo sarado e roupas de grife. Mas, em geral, somos iguais ao bambu imperial, bonitos e viçosos por fora, mas irremediavelmente ocos por dentro. Somos apenas peças de decoração iguais aos manequins das lojas da Oscar Freire.

Sinceramente, não troco o conforto da minha casa pelas intermináveis filas, mas troco as baladas noturnas por uma boa pizza na casa dos amigos na sexta–feira à noite e me sinto maravilhosamente feliz quando me reúno com minha família e amigos em um churrasco num domingo de sol, seja aqui ou seja na praia... pois os lugares estão cheios de pessoas vazias.

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