Como principalmente quando crianças, temos pouca consciência da nossa individualidade. E, para além desse fato, quando crianças, necessitamos da relação simbiótica que temos com os nossos pais. Isso é necessário para nossa sobrevivência.
Nessa fase da nossa vida, vivenciamos de forma clara as felicidades e também as dores de nossos pais.
E as vezes, nesse lugar, encontramos uma armadilha a que muitos se prendem: a necessidade que sentem de “resolver” ou “compensar” a dor sentida pelos genitores.
Dessa forma, se colocam na impossível missão de carregar as dores dos pais, como uma tentativa de liberá-los da dor que sentem.
Em casos mais difíceis, onde sentem que os pais se encaminham em sua alma para seguir outros familiares que se foram, ou quando sentem que os pais “se entregaram a um grande sofrimento e dali não conseguem se mover” os filhos podem até mesmo partir para todo o tipo de sacrifício, na fantasia de salvar seus pais.
Outra dinâmica que também coloca os filhos em rota com as dificuldades, é quando há uma dificuldade no casal.
Quando a relação amorosa dos pais, por algum motivo, resulta em brechas, o filho ou a filha, sentindo a necessidade não preenchida do pai ou da mãe, se coloca na função de compensar a falta (ou o que falta) para um dos genitores e até para ambos.
É dessa dinâmica que surge “o filhinho da mamãe” ou a “filhinha do papai”.
Os filhos se colocam no movimento de viver a dor de um dos pais ou de compensar o que sentem que os pais desejam receber e ficam indisponíveis para viver a sua própria vida.
Essa indisponibilidade segue com eles nos seus caminhos para a fase adulta, que por sua vez, gera novas dificuldades nos seus relacionamentos posteriores. Muitos filhos, embora se encaminhem para um relacionamento afetivo na sua vida adulta, muitas vezes não estão verdadeiramente disponíveis para estas relações, pois se encontram “comprometidos e vinculados” com seus pais.
Quando esses movimentos ocorrem, a indisponibilidade que os filhos sentem por estarem ligados através da lealdade familiar a uma dor sistêmica os impedem de viver e crescer em sua vida pessoal.
Neste lugar, somente uma solução é possível: olhar para o lugar dos pais e perceber a grandeza deles e a pequenez dos filhos. É incompatível quando o segundo tenta fazer algo pelo primeiro.
Ao ver a realidade e o que atua, o filho pode, com amor e respeito, deixar com pais os problemas que ele não tem a capacidade de resolver.
E quando ele faz isso, algo liberador acontece: o filho ou a filha se sente livre para seguir adiante, levando com ele o fluxo da vida que recebeu de seus pais e que passou por muitos antepassados.
Da mesma forma, reconhecer que o que é difícil para os pais está dentro do que é capaz para eles resolverem. Ao filho cabe cuidar dos seus próprios problemas.
A prova real disso é ver a felicidade que os pais sentem de ver seus filhos seguindo adiante. Filhos presos em emaranhamentos familiares é pesado para os pais. Vê-los livres e seguindo adiante é leve e prazeroso.
Filhos, vocês amam seus pais?
Então sigam adiante!
Esta é, sem dúvida, a maior homenagem que poderão oferecer a eles.
"Eu sinto muito, mas eu me julguei maior do que vocês. Me abençoe mamãe, me abençoe papai, se eu cuidar da minha vida, porque da vida de vocês eu não dou conta, eu sou pequena, a vida de vocês eu deixo com vocês, porque vocês são grandes."
"Me abençoe papai e mamãe se eu fizer diferente de vocês, e o dia que eu conseguir ser feliz, ser prospera, ser salvável, eu farei em sua homenagem, em homenagem a vocês dois."
"Me abençoe papai e mamãe se eu fizer diferente de vocês, e o dia que eu conseguir ser feliz, ser prospera, ser salvável, eu farei em sua homenagem, em homenagem a vocês dois."
"Sim, você são meus pais. Tudo o que esteve em vocês está também em mim. Reconheço-os como pais e aceito as consequências disso. Fico com a parte boa do que me deram e deixo-lhes a tarefa de enfrentar o destino de vocês como bem entenderem."
A simetria oculta do Amor - Bert Hellinger
"O que você fez é responsabilidade sua. Mas você continua sendo meu pai. Não importa o que você tenha feito, estamos ligados. Estou feliz por você ter me dado a vida. Mesmo que seus atos tenham sido horríveis, sou seu filho, não seu juiz."
"O que você fez foi terrível para nós e, por enquanto, não o veremos. Mas ainda é nosso pai e nós estamos gozando a vida que nos deu."
"Reconheço tudo o que ele me deram. Foi muito e foi suficiente. O de que mais eu precisar, ganharei por mim mesmo ou de outros, de modo que agora vou deixá-los em paz."
"Recebo o que ganhei e, se deixo meus pais, continuo possuindo-os e eles a mim."
Louis: Mamãe disse certa vez que ficara com meu pai por minha causa. Acho que não dei
suficiente apreciação a isso.
Hellinger: Nem deveria, pelo menos nesse sentido. Se sua mãe disse que você foi a razão de ela aturar o marido, não lhe contou toda a verdade. E se você pensa que isso aconteceu realmente, vai
se sentir importante demais. Ela ficou com o seu pai porque aceitava as consequências das
próprias ações. Fez aquilo por ela e por ele, o que é muito diferente. Você não participou de suas
decisões e acordos; deve, pois, estimá-la por querer aceitar as consequências de suas ações, não por
tê-lo feito por você.
Se você achar que foi algo feito em seu benefício, distorcerá a verdade. Por outro lado, se você
reconhecer que ela, voluntariamente, aceitou as consequências de suas ações, reverenciará tanto
sua mãe quanto seu pai. Formulando os dados dessa maneira, você privilegia a intimidade entre
seu pai e sua mãe. De outro modo, privilegia a intimidade entre sua mãe e você.
A dinâmica é a mesma quando os pais se casam por causa de uma gravidez. Eles não fazem isso
por causa dos filhos, mas por aceitarem as consequências de suas ações. O filho não tem parte ativa
no acordo entre os pais; o pai ou a mãe é que se sente responsável, sobretudo quando a união é
infeliz. Esses filhos não têm culpa alguma e não precisam sentir remorsos. Muitos filhos, porém,
agem assim e por isso se julgam importantes demais.
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