Primeira
noite na minha nova casa. Sozinha. Ate parece
a vida de uma outra pessoa, mas é a minha. A sensação é estranha, estranhíssima.
Como se fosse a noite antes de uma prova decisiva, ansiedade da insônia de uma
noite antes de uma entrevista de emprego ou a noite após da perda de alguém importante.
Aqui
dentro agora me sinto uma estranha, como se eu tivesse encontrado uma chave no
chão e tivesse tentado uma porta ao acaso. Que abriu. Estou empolgadíssima, mas
acredito que não conseguirei fechar os olhos essa noite.
Pensamentos se
sobrepõem e perseguem uns aos outros, enquanto isso faço um dos meus juramentos
silenciosos (aqueles que se faz enfrente ao espelho ou quando estamos diante de
uma bela paisagem que nos emociona) repetindo como se fosse um mantra: “Aproveite
ao máximo as pequenas novidades, as promessas para o futuro, à vida. Morar
sozinha é como todo o resto. Só depende de você”.
"Cedo
ou tarde Tem que dar aquele passo que o desliga de seus pais e de seus mestres
e sentir um pouco a aspereza da solidão, embora em sua maioria não a possam
suportar por muito tempo e voltem para a submissão. Eu mesmo não me separara de
meus pais e do mundo familiar, do mundo “luminoso” de minha bela infância, com
luta violenta, mas com paulatino afastamento, pausado e quase imperceptível.
Tal separação me entristecia e provocava, às vezes, horas muito amargas em
minha visitas ao lar." – Demian – Herman Hesse.
Minha nova vista. Olho
as janelas, varandas e famílias de outros apartamentos e faço comparação com aquelas
com as quais convivi ate poucos dias atrás e mais ou menos me parece tudo
igual. Talvez, não: é tudo diferente.
Coloco
a escova de dente no meu novo banheiro, preparo alguma coisa pra comer e procuro
imaginar como este apartamento poderá se tornar o “meu” lar. Pego papel e
caneta e escrevo o que ainda falta comprar.
Ligo
a TV, arrumo alguma coisa pra beber como se tivesse convidado algum amigo para
beber, mas estou só.
E
agora o que faço? Não estou aqui só por uma noite, como em um hotel. Estou aqui
para viver e devo ter paciência. Eu desejei isso como nunca, mas nunca tinha
vivido.
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